História de Monte Redondo
Texto de Leonel Pontes
A casa está a cair. Está num estado de lástima, se não lhe for deitada mão, cai. Está como esteve a “casa da música”. A sua conservação foi desprezada. As paredes de adobe cederam ao tempo, o telhado começou a beirar. Com a degradação perdeu condições indispensáveis para o uso. Hoje nada resta.
Esta, como aquela, também foi do Dr. Luis Pereira da Costa, um dos mais ilustres filhos da terra. Professor da Universidade de Coimbra, aí privou com outro vulto da medicina, o Dr. Fernando Baeta Bissaya Barreto, nascido no ano de 1.886 em Castanheira de Pêra.
Pereira da Costa mandara levantar a apalaçada casa no início do século passado, em 1.904 para sua residência. O distinto lente de medicina era portador de farta folha de bens ao luar, que herdara ou comprara, nomeadamente, às gentes da região de Monte Redondo.
Mas tudo tem fim. Não tendo filhos, nem herdeiros, e, vendo que a vida é inelutável fez testamento dessa bastíssima folha ao amigo e colega Dr. Bissaya Barreto – hoje Fundação Bissaya Barreto - com uma condição, a de que os seus bens suprissem um instituto de utilidade social que protegesse e socorresse as crianças necessitadas do Concelho.
Decorria o ano de 1.940, Luis Pereira da Costa morre. A residência com fora vontade sua deu efectivo lugar a um instituto de assistência social denominado Instituto D. Maria Rita do Patrocínio Costa – Casa de Educação e Trabalho - em homenagem à sua mãe.
Durante anos tal instituto foi gerido pelas freiras da Congregação de S. José de Cluny. Aí desenvolveram meritório trabalho na educação de raparigas, em particular órfãs. Um Instituto que também alimentava a cantina local: “sopa dos pobres”. Entretanto, deixou de receber em internato as rapariga. As freiras partiram e a casa fechou. Mais tarde já nos anos de 1.975 passou a receber crianças mas sem qualquer outro valor acrescentado que não fosse a guarda diária de crianças.
Com imensa pena, hoje, todos olhamos a casa do Dr. Luis Pereira da Costa em degradação. É certo que a Fundação tem prestado alguma ajuda a Monte Redondo, como por exemplo, cedendo terrenos por tempo limitado para obras sociais de iniciativa privada, outros com menor rentabilidade têm-nos vendido, mas não mais do que isso.
Seria de toda a justiça que a Fundação restaurasse o palacete conferindo-lhe uso em benefício local, tal seja a instalação de uma biblioteca, a sede social da Junta de Freguesia da Vila, porventura da casa da cultura – onde voltaria a ter espaço a centenária Filarmónica de Nossa Senhora da Piedade. Ou outros fins de âmbito social.
Estamos certos de que, se o Dr. Luis, ou a sua mãe voltassem onde fora o seu lar, morreriam de desgosto pela falta de respeito a que a nobre casa foi votada.
ed. 3754, 27 de Fevereiro de 2009